Violão Tenor
Desde pequeno, Gui sempre teve interesse e curiosidade por todos os instrumentos, tendo estudado piano, flauta transversal e violão, instrumento com de quem mais se aproximou. No entanto, apesar de seu amor pelo violão, o músico sempre sentiu vontade de fugir do estudo comum do instrumento, estudando coisas diferentes das que eram passadas por seus professores.
Em 2023, quando já estava na faculdade, seu cientista interior entendeu que a uma das formas de sair da caixa em seu instrumento era experimentando novas afinações. Assim como Dori Caymmi, começou a afinar seu violão em diversas afinações diferentes, tanto conhecidas como D A D F# A D, como afinações loucas que o próprio estudante inventava em casa. Apesar da iniciativa interessante, o estudante nunca estava verdadeiramente satisfeito com o resultado de suas empreitadas científico-musicais, até que ouviu falar do violão tenor.
Assistindo a entrevista de Jacob Collier, realizada por Rick Beato, Gui se interessou pelo violão de Jacob, que é um violão de 5 cordas, mas mais do que pelo violão de Jacob, que possui uma afinação muito particular, o jovem músico se interessou pelo instrumento citado por Collier, o violão tenor.
Assim que entrou na faculdade, Gui fez aulas práticas de banda de choro com o tenorista Pedro Ramos e ao associar a citação de Jacob com o instrumento de seu professor, Gui logo procurou Pedro para saber mais sobre esse tipo diferente de violão.
Pegando referências como Garoto e Zé Menezes, o pesquisador logo se interessou pela sonoridade e pela brasilidade do instrumento. Só havia um pequeno impecilho, as cordas de aço.
Gui é um músico que gosta de uma sonoridade suave, e sempre foi, desde o início de seus estudos, apaixonado pelo som do violão de nylon, achando o som das cordas de aço muito estridente. Nesse momento, Gui se viu novamente com um pedra em seu caminho.
Não vendo motivos para se prender ao violão tenor comum, o músico começou a “desafinar” seu violão de nylon e o afinar em quintas, atitude que lhe custou alguns encordoamentos, já que a tensão na corda mais aguda era muito grande para o tamanho do violão.
Na época de testes do novo instrumento, ainda em seu violão comum, Gui afinava as 4 cordas mais agudas com a afinação do tenor comum, C G D A, porém sempre sentia falta dos graves característicos do violão brasileiro. Foi então que o músico pensou “No lugar de ficar estourando cordas vou afinar as 4 cordas em quintas a partir do F (F C G D)”, nota que seria anterior ao C em uma afinação de quintas. Agora já não sentia falta mais dos graves, mas começou a sentir falta dos agudos.
Por causa da tessitura de sua voz, Gui percebeu que o som de suas músicas estava muito confuso, não conseguindo ouvir bem nem o violão nem a voz. Foi então que Gui decidiu novamente se distanciar da tradição dos tenoristas brasileiros e “criar” um instrumento que tivesse 5 cordas e englobasse tanto os graves quanto os agudos. Foi quando começou a afinar seu violão, com auxílio de um capotraste, em F C G D A, que seu tenor nasceu.
Se desprendendo das tradições tenoristas de instrumento solista com 4 cordas de aço, Gui finalmente concluiu sua pesquisa por uma nova sonoridade, só faltando agora ter o instrumento de fato.
No final do primeiro semestre de 2024, Gui começou a pensar sobre como faria esse violão e apresentou sem problema à Marcão, luthier responsável por dar manutenção aos instrumentos de sua faculdade. Depois de conversarem sobre o assunto, o luthier sugeriu que Gui modificasse um violão requinto ou um violão 3/4, por que como são menores, o instrumento provavelmente aguentaria a maior tensão sem estourar as cordas.
Aproveitando seu aniversário, que era em aproximadamente 1 mês, o jovem músico aventureiro explicou todo seu processo de busca por um novo som e pesquisa à seus pais, que o presentearam com metade do valor do violão. Com o violão 3/4 em mãos agora Gui precisava o modificar, o que seria tranquilo caso o músico não tivesse gastado todo seu dinheiro comprando a outra metade do violão.
Então, em um ato de enorme heroísmo, Malu, sua namorada, o presentou com a modificação do violão, que foi realizada com o luthier Rafael Miyamoto, trocando o rastilho e o nut do violão e reformando o cavalete.
Desde então, Gui se dedica quase que exclusivamente ao seu tenor diferente, com 5 cordas de nylon, descobrindo novos acordes e melodias que não viriam à cabeça, ou às mãos, em nenhum outro instrumento.